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INFRA
Outsourcing & Workplace
Por meio da
arquitetura dizemos
que a cultura não
tem limites. É como
se não houvesse
uma barreira entre
o ser humano e o
conhecimento
Yuri Vital
o Arquiteto Yuri Vital, da São Paulo
Arquitetura , responsável pelo projeto.
O projeto arquitetônico consiste em
um monólito puro, modelado em con-
creto aparente, com dobras que fogem
do formalismo. Mas não adianta ter be-
leza se não houver funcionalidade. Por
isso, as dobras que formam a parte ex-
terna do espaço têm também uma fun-
ção acústica, como explica Vital: “As pa-
redes paralelas produzem eco porque a
onda sonora fica de um lado para o ou-
tro, criando um índice de reverberação
ruim. Com paredes não paralelas ou
assimétricas, dissipamos a onda mecâ-
nica do som, evitando o eco. O visitante
está ali para admirar e analisar obras de
arte. É um momento de contemplação
e ele não pode ser interrompido por
um eco vindo de um som produzido a
20 metros dali”.
O processo criativo envolve pensar
acerca de todos os problemas e tentar
transformá-los em solução, ou seja, o
projeto é mais técnico do que plásti-
co. Só que tem a arquitetura para unir
harmoniosa e belamente esses dois
pontos e possibilitar quebras de para-
digmas. “Tudo que eu acho óbvio, can-
celo e tento não por no meu projeto. As-
sim, conseguimos criar um espaço com
muitas características que não tem em
nenhum outro lugar na América do Sul”.
Nas áreas técnica, administrativa
e nas salas de aula as paredes podem
ser paralelas porque não há problemas
com eco por serem menores. Já a área
expositiva no subsolo é outra quebra de
paradigma com propósito. “É um lugar
que não precisa tanto de ar condicio-
nado por já ser protegido da luz solar e
também de ruídos externos”, justifica o
Arquiteto. Lá, as paredes são paralelas.
O teto, porém, é inclinado, quebrando,
de outra forma, a possibilidade de eco:
“Assim, temos uma complexidade es-
trutural e de espaço que surpreende a
cada cantinho”, descreve.
O projeto se destaca por ser uma
obra de arte, como se orgulha o Presi-
dente da Porto Seguro, Fábio Luchetti:
“Por si só o edifício já tem um cunho
museológico e vai criando uma expe-
riência que desperta o interesse da
comunidade. É uma obra de arte que
valoriza o bairro e convida as pessoas
para ver o que ela guarda”.
A iluminação também ganha papel
protagonista. Para o Arquiteto, a luz na-
tural é muito nobre e por isso foi apro-
veitada ao máximo para dar forma ao
museu. No subsolo tem iluminação ze-
nital, que vempelo teto, uma vez que há
dois rasgos na parte mais alta (de seis
metros ). E no térreo a luz zenital vem
pelo chão. O diferencial é que todos os
espaços com luz natural são totalmen-
te controlados, conferindo característi-
cas completamente diferentes.
O pé-direito de oito metros do es-
paço principal é outro diferencial. Para
possibilitar a entrada de grandes obras,
ele é dotado de uma porta de 2,5 me-
tros, mais outras três com dois metros
cada. Foi essa infraestrutura que pos-
sibilitou a entrada da réplica em tama-
nho real da escultura do Davi, de Miche-
langelo, com 5,17 metros de altura mais
uma base de um metro, parte da expo-
sição inaugural gratuita Grandes Mes-
tres – Michelangelo, Leonardo e Rafael.
A quebra de paradigma está até nos
detalhes. Os banheiros, por exemplo, es-
tão na área térmica para que não ecoem
sons e a escada de emergência não tem
cara de emergência, pois é banhada pelo
sol. A questão da segurança, primordial
para uma seguradora, não poderia ter
menos ênfase no espaço. O sistema anti-
-incêndio é a gás, o que impede a propa-
gação do fogo, sem afetar a oxigenação
necessária para o ser humano.
E tudo isso em um complexo de ma-
nutenção simples, como demonstra o
Gestor do espaço Marco Rangel, Sócio
da agência e consultoria A Cultural, res-
ponsável pela gestão cultural e admi-
nistração do espaço. “A infraestrutura é
nova e de fácil preservação, assim po-
demos nos concentrar na gestão cultu-
ral. O trabalho é feito em parceria com
equipes terceirizadas, que trazem solu-
ções”, afirma ele.
A fachada de concreto armado apa-
rente recebeu um tratamento de verniz
para evitar impregnação de sujeiras.
Internamente, as paredes também são
de concreto e o piso é de madeira maci-
ça. São materiais resistentes e que não
exigem grandes cuidados. “Nos inspira-
mos em construções que têm mais de
50 anos e estão perfeitas. O objetivo foi
usar elementos que tivessem durabili-
dade, porque queremos eternizar a obra
e evitar que ela seja alterada ao longo
de sua vida. Trouxemos a inspiração das
décadas de 1940 e 1960, quando se utili-
zava materiais robustos e que se torna-
vam nobres pela forma com a qual eles
eram compostos”, explica Vital.