Página 59 - Revista Infra Março 2013

59
INFRA
Outsourcing & Workplace
Dentre os dados apresentados,
5.565
municípios brasileiros (58,6% do
total) afirmam ter iniciativas de coleta
seletiva, que em comparação ao ano
anterior demonstra apenas 1% de au-
mento, o que torna insignificante den-
tro da realidade exposta.
Como podemos notar, a questão
da geração dos resíduos é muito mais
complexa, que aumenta em taxa dupla-
mente ou até triplamente proporcional
ao crescimento populacional. As cida-
des brasileiras escolhidas para sediar a
Copa do Mundo de 2014 deverão estar
preparadas para todo esse crescimento
de público versus a geração de resíduos.
A forma mais eficaz é o aterro sani-
tário, onde são feitas escavações e um
sistema de impermeabilização do solo,
com canais para coleta do chorume, ca-
nos para captação do gás metano, que
é convertido em energia por meio das
usinas termoelétricas e, por sua vez, são
geradoras de crédito de carbono. Con-
siderando que a Política Nacional de
Resíduos Sólidos prevê o fim dos lixões
e aterros controlados, temos que nos
preocupar, pois após um ano e meio
os aterros sanitários poderão chegar ao
limite, tornando-se verdadeiros lixões.
Alguns Estados já estão adotando medi-
das para se adaptarem a nova realidade
de 2014. O Rio de Janeiro, por exemplo,
está com a meta de zerar os lixões nos
92
municípios até 2014.
A logística reversa por meio de Gru-
pos do Comitê Orientador da PNRS
elaborou editais convocando as cinco
cadeias produtivas, definidas como
prioritárias. São elas: embalagens em
geral, embalagens de óleos lubrifican-
tes, lâmpadas fluorescentes, eletrônicos
e descarte de medicamentos.
As empresas apresentam propos-
tas para o devido retorno dos produtos
por eles produzidos. Dessa maneira, as
indústrias poderão, dentro da linha de
projeto e produção, substituir matérias-
-
primas que por sua vez tornem inviável
a reciclagem desse resíduo. O legislador
pensou em compartilhar com o produ-
tor o custo do reingresso desse resíduo à
cadeia de produção, que antes ficava ao
encargo do Estado.
No setor de embalagens foi orga-
nizada, de forma adiantada, uma coa-
lizão de 15 associações sugerindo que
toda a cadeia dê apoio à implantação
eficaz da coleta seletiva nas cidades se-
des, inclusive na educação ambiental
do próprio consumidor.
As grandes empresas multinacio-
nais e nacionais criaram uma associa-
ção sem fins lucrativos, denominada
Compromisso Empresarial Para Reci-
clagem (CEMPRE), dedicada à promo-
ção da reciclagem dentro do conceito
de gerenciamento integrado do lixo. O
CEMPRE trabalha para conscientizar a
sociedade sobre a importância dos três
Rs” – Redução, Reutilização e Recicla-
gem – por meio de suas publicações,
pesquisas técnicas, seminários e ban-
cos de dados.
A reciclagem das latinhas de alumí-
nio já é de 98,2% no Brasil, segundo a
Associação Brasileira dos Fabricantes
de Latas de Alta Reciclabilidade (Abra-
latas), movimentando cerca de R$1,3
A produção de 35% dos resíduos sólidos urbanos
do País é de doze cidades brasileiras escolhidas para
sediar o evento mundial. Estamos falando de 91 mil
toneladas de lixos gerados por dia, sem contar com o
público (…) durante os jogos
bilhão e demonstrando que o próprio
fabricante seria ineficaz em entrar no
processo de logística reversa, uma vez
que o setor de reciclagens das latinhas
já se encontra organizado.
Tentei demonstrar a você, leitor, a
alta complexidade do assunto. Na ver-
dade, a ação deve ser conjunta entre
Governos, empresários e a população.
Não basta somente ter leis, mas fazê-
-
los cumprir com o devido entendimen-
to e cumplicidade. Em ano de Copa do
Mundo, todos os olhos estarão voltados
para a grande festa, por isso o Governo
Federal precisa estabelecer metas e re-
gras claras definindo quando começa
e termina a responsabilidade de cada
cidadão. A sociedade também deve
aproveitar essa oportunidade para ade-
rir e não correr o risco da Política Nacio-
nal de Resíduos Sólidos se tornar mais
uma lei sem aplicação, mesmo porque
depois da festa a limpeza fica para o
dono da “casa”.
Alessandro Azzoni
é consultor de meio am-
biente e especialista em orçamento público.
Formado em Ciências Econômicas, com pós-
-
graduação em Mercado Financeiro Internacio-
nal na Suíça, é conselheiro reeleito do CADES
(
Conselho Regional de Meio Ambiente, Desen-
volvimento Sustentável e Cultura de Paz) Vila
Mariana. Envolvido com diversas causas, é ain-
da coordenador da Comissão Socioambiental
da Distrital Sudeste da Associação Comercial,
membro do CONSEG (Conselho Comunitário de
Segurança) e do conselho dos moradores em
situação de rua da Vila Mariana, conselheiro
do CADES Municipal pela Associação Comer-
cial de São Paulo e do distrito sudeste.