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34 INFRA

Outsourcing & Workplace

É PRECISO REPENSAR O MODELO DE PPP´S

Não faltam relatos

de projetos com pro-

blemas de recebimento

em função de decisões

unilaterais quanto ao

não pagamento do valor

previsto. O investidor, por

sua vez, não tem nada a

ver com isso, afinal, apli-

cou milhões almejando

o retorno estimado no

plano original.

Por mais que os atuais contratos

tragam dispositivos para garantir esta

contrapartida, não é o que acontece

na prática. Há, por exemplo, a figura

do verificador independente, que na

teoria é excelente e fica responsável por

checar se ambas as partes cumpriram

o que lhes cabia no acordo. Porém, o

que acontece quando o governo não

nomeia este verificador?

Há ainda a previsão de execução de

garantias, caso haja algumproblema ou

falta de pagamento. Contudo, quando

essas garantias são realmente necessá-

rias, esses dispositivos não funcionam,

e os empresários se veem obrigados a

recorrer à Justiça, em longos processos.

Na prática, tal quadro se reflete na

criação de poucas (e cada vez menos)

parcerias público-privadas, ou ainda

em acordos que são ineficientes para

ambos os lados e para a população.

Por isso, precisamos repensar diver-

sas características das PPPs. Ou os con-

tratos são melhores ou simplesmente

não vai dar certo. São necessárias re-

gras mais rígidas para os governos que

não cumprirem com suas obrigações,

além de garantias reais e líquidas aos

parceiros, como as do

Fundo de Participação

dos Estados (FPE) e do

Fundo de Participação

dos Municípios (FPM),

que parecem ser as mais

seguras. Os investidores

não podem depender da

boa ou má vontade das

equipes políticas que vão

se suceder e alternar ao

longo do período dos contratos.

Estes projetos não são de um po-

lítico, mas sim de um estado, de um

município, de toda a população. Não

pode mais existir o velho lugar comum

do ‘la garantia soy yo’.

Por experiência própria, é possível

dizer que os problemas são persistentes

e graves. Em alguns casos, como no

nosso, a saúde financeira da empre-

sa é suficientemente boa para segurar

os impactos e continuar crescendo à

revelia dos incidentes de pagamento.

No entanto, nem todos os empresários

brasileiros que poderiam contribuir ou

que contribuempara o crescimento na-

cional são capazes de dizer o mesmo.

Por isso, muita gente competente pre-

fere não se arriscar neste tipo de par-

ceria, ou por receio, ou por ainda estar

passando por grandes dificuldades com

as já existentes.

O Brasil merece um destino melhor

– e não há momento mais adequado

para iniciá-lo do que agora.

*

Philippe Enaud

é CEO e fundador

da Vivante, especializada na ges-

tão de facilities e que participa de

cinco projetos de parcerias público-

-privadas na área de saúde no Brasil

Divulgação

E

mbora o modelo de parcerias pú-

blico-privadas como o conhecemos

hoje tenha surgido apenas em2004, sob

o primeiro mandato de Lula, a ideia de

utilizar a iniciativa privada para desen-

volver projetos de interesse público é

bemmais antiga. No Brasil, especifica-

mente, data de meados do século XIX,

quando Visconde de Mauá se valeu de

incentivos do governo do imperador

D. Pedro II e construiu, com recursos

próprios, a primeira ferrovia nacional,

a Estrada de Ferro Mauá.

É claro que, desde então, o país evo-

luiu muito. No entanto, guardadas as

devidas proporções, é possível traçar

um paralelo entre os tempos do Impé-

rio e os de hoje, mostrando que, neste

período, alguns problemas se perpe-

tuaram e outros surgiram.

Omodelo no qual o parceiro privado

entra coma infraestrutura e a operação

do serviço, sendo remunerado pelo es-

tado, é interessante e eficiente. Se bem

pensado e aplicado, pode aumentar

os investimentos em infraestrutura em

setores-chave, como saúde, educação e

transporte. Estas parcerias são, de forma

geral, um caminho interessante e im-

portante para o crescimento do Brasil.

Numcenáriomais amplo, os contra-

tos que o Brasil teve até aqui foramestru-

turados para protegeremos investidores

por longos períodos, de 30 anos oumais.

Só que, infelizmente, estas parcerias, as

primeiras, tiveramalgumas falhas, prin-

cipalmente por conta de atitudes incom-

patíveis comamodalidade de contrato,

provocadas pormudanças emgovernos,

secretarias, capacidade orçamentária ou

até por falta de vontade política.

PONTO DE VISTA

|

por Philippe Enaud