18 INFRA
Outsourcing & Workplace
Fábio Sandrini:
Aproveitando o
que você falou, acho precisamos tan-
gibilizar os serviços para poder valorar
o quanto eles custam efetivamente, já
que geralmente são vistos como com-
modities. O problema está justamente
em deixar bem clara qual a definição
de cada serviço. No nosso lado, o que
mais acontece, hoje, é o contratante
não saber o que quer. Então, o escopo,
na maioria das vezes é mal feito. Ge-
ralmente, nós não temos tempo hábil
para elaborar uma proposta. Chegam
a nos dar dois, três, quatro dias, para
elaborá-la, sempre partindo de uma
“urgência”, e o elemento que rege a
contratação é sempre o menor preço.
O contratante não analisa o porte da
empresa, os recursos que serão alo-
cados com o serviço. Ele contrata sim-
plesmente pelo preço!
A grande dificuldade que existe, creio
que tanto aqui como na Europa, é o con-
trato por serviço. Lá, não se faz a contra-
tação por mão de obra. Aqui, tem equi-
pe de tudo e o cliente diz assim: “A sua
equipe tem cem pessoas, mas faltaram
dez, quero desconto”. O cliente não quer
saber do SLA, se está positivo, ele ape-
nas quer o desconto dos faltantes. Como
prestador de serviços, qual a minha mo-
tivação de investir neste contrato?
Professor Moacyr:
Nenhuma! Por-
que se você não tem também a visão
de longo prazo, você sabe que amanhã
o contrato pode ser rompido.
Fábio Sandrini:
O que posso dizer
pela minha empresa e as demais do
segmento é que é importante mostrar
ao contratante que a companhia é se-
ria, e que é muito mais eficiente esta-
belecer contratos de, no mínimo, dois
anos. Temos de saber o que o cliente
quer e isso a gente não consegue ex-
trair facilmente dele. Aqui no Brasil, o
grande desafio das empresas está em
criar um procedimento que possa ser
vendido e ter escopos que são seguidos
e respeitados pelo cliente. Muitas vezes
não conseguimos executar o escopo
porque o contratante quer muito mais
do que aquilo que contratou. Os contra-
tantes tinham de firmar uma padroniza-
ção de contratação. Mas, mesmo assim,
em relação há dez anos atrás, isso já
evoluiu bastante.
Professor Moacyr:
A normatização
é uma saída. Mas desde que seja uma
norma de padronização de contratação
mandatória, não obrigatória.
Fábio Sandrini:
Na prestação de
serviços existe hoje uma carência de
mão de obra muito grande. Para ameni-
zar o problema, poderíamos aumentar
os salários o que, por outro lado, invia-
biliza a contratação... Precisamos sem-
pre tomar cuidado com essa questão.
Vander Morales:
O Fábio falou
muito bem sobre o ponto de vista do
prestador e o Professor sobre o do
tomador. Em minha opinião, temos
falhas de ambos os lados, tanto da
parte empresarial como da parte de
quem contrata, mas tudo se resume
na falta de especialização de ambos.
Muita gente se aventura porque acha
que é um segmento fácil ou, às vezes,
não foi bem-sucedido em alguma ou-
tra ação e acredita que basta montar o
negócio que ele vai vender facilmen-
te. As margens de lucro da maioria
dos contratos são muito baixas, tem
de haver uma administração impecá-
vel para se viver do lucro, para poder
avançar em direitos trabalhistas, po-
der avançar em impostos, etc.
Professor Moacyr:
Existem empre-
sas que nascem a partir de um “servici-
nho” e crescem, mas a cabeça do dono
não acompanha e ele não consegue es-
truturar o negócio. Ele não quer colocar
pessoas competentes na gestão pra não
se comprometer pessoalmente. Esse
tipo de empresário cresce, mas não se
desenvolve, ou seja, ele mesmo se colo-
ca em uma grave posição de risco.
Vander Morales:
A prestação de
serviços é muito complexa. O que te-
mos visto em algumas situações é que
quem compra, compra mal. Tem gente
O problema está justamente em deixar
bem clara qual a definição de cada
serviço, pois o que mais acontece, hoje, é o
contratante não saber o que quer
Fábio Sandrini
, Conselheiro do Seac-SP
Temos falhas tanto da parte empresarial
como na parte de quem contrata, mas tudo se
resume na falta de especialização de ambos
Vander Morales
, Presidente do Sindeprestem