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INFRA
Outsourcing & Workplace
IMPLICAÇÕES NO ACESSO À ÁGUA
U
m dos grandes desafios para as
atuais e futuras gerações é atender
a demanda de itens básicos para o de-
senvolvimento humano. A previsão para
2030 da Organização das Nações Uni-
das (ONU) é que a população global vai
necessitar de 40% mais água, 35% mais
alimentos e 50%mais energia. Vale lem-
brar que tanto a produção de alimentos
quanto a de energia estão diretamente
ligadas à oferta de água. Outra questão
vital é a crescente necessidade de am-
pliação do tratamento de água e da co-
bertura de saneamento, que impactam
tanto a saúde da população quanto a
conservação do meio ambiente.
Apesar de o acesso à água potável
ter sido uma das maiores conquistas
dos Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM), atualmente, quase 750
milhões de pessoas no mundo não têm
acesso à água tratada, 2,5 bilhões não
melhoraram suas condições sanitárias
e 1,3 bilhão não têm acesso à eletrici-
dade, de acordo com a ONU.
Neste sentido, é essencial o entendi-
mento de que o recurso “água” está liga-
do a tudo na humanidade, da produção
de alimentos à urbanização, da saúde ao
transporte. E tem impacto no controle de
doenças, no desenvolvimento sustentá-
vel e, até mesmo, na desigualdade social.
Uma cidade que não tem acesso à água
potável, por exemplo, pode ter grande pre-
juízo no seu desenvolvimento humano.
Aindahoje, a faltadeacessoàáguapotável
e saneamentoé responsável pelamortede
uma média de mil crianças todos os dias
emconsequência de doenças diarreicas.
Além disso, a dificuldade de acesso
à água condena mulheres e meninas a
ÁGUA |
por Adalberto Luis Val*
diminuir muito o tempo dedicado ao
cuidado de suas famílias e aos estudos,
aumentando ainda mais a desigual-
dade de oportunidades. O Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef )
estima que, na África, a soma do tempo
gasto pelas pessoas a cada ano cami-
nhando para se abastecer de água ul-
trapassa 40 bilhões de horas.
E cada vez mais, não é possível disso-
ciar a oferta do manejo. Qualidade am-
biental e água estão intrinsicamente liga-
dos. Uma das maiores crises hídricas de
todos os tempos, enfrentadas pelo Brasil,
em especial a região sudeste, a mais po-
pulosa e com as maiores metrópoles, co-
locam em xeque o tratamento que temos
dado aos nossos recursos hídricos. Ao
mesmo tempo emque a população sofria
coma faltad’água, tinhaqueconviver com
enchentes. Por outro lado, as soluções ca-
seiras encontradas para armazenar água
tratada e água de chuva trouxeram outra
ameaça à saúde: o crescimento de casos
da dengue. Até abril deste ano, o Brasil já
havia registrado um aumento de 240%,
sendo que só em São Paulo, que tinha a
mais grave situação de epidemia, foram
registrados 258 mil casos de dengue nos
primeiros três meses do ano, represen-
tando 56% dos casos no País, e número
sete vezes superior ao mesmo período de
2014, conforme dados do Ministério da
Saúde. Isso nos leva a repensar soluções
imediatistas e sem planejamento, como
se estivéssemos lidando com recursos in-
finitos ou uma situação pontual.
E o que também deve ser repensa-
do são as técnicas que temos usado
para tratamento de águas servidas, que
ocasionam uma série de problemas,
como o descarte inadequado de medi-
camentos, que trazem efeitos devasta-
dores para o meio ambiente. Quando
antibióticos, anticoncepcionais, inibi-
dores de apetite e diversos outros me-
dicamentos chegam aos ecossistemas
implicam, muitas vezes, a extinção de
um conjunto significativo de microrga-
nismos que têm papel importante na
recomposição de corpos d’água degra-
dados, além disso, podem contribuir
para extinção de um vasto número de
anfíbios, de peixes e da própria vegeta-
ção do entorno dos corpos d’água, por
conta da poluição causada.
Em suma, não dá para tratar a água
sem pensar todo o ciclo e implicações
econômicas, sociais e ambientais. E
fica a pergunta: se não é possível de-
senvolvimento econômico sem água,
por que colocar os interesses econômi-
cos acima da preservação de manan-
ciais e fontes de água potável?
*
Adalberto Luis Val
é pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-
zônia (Inpa/MCTI) e membro do Conselho
Administrativo da Fundação Bunge.
Gerardo Lazzari